Apesar da revitalização do blog não estar pronta, eu resolvi começar os trabalhos por aqui, porque acredito que a melhor forma de incentivar é fazermos nós mesmos.
O conto que se segue foi escrito para o RPG online, mas nunca chegou a ser postado... que bom pois agora posso por ele aqui sem ser repetitivo. Ele não tem muito a ver com o mundo do RPG e nem é algo muito bom, mas vá lá!
As Respostas Vivem Dentro de Nós
Alguns duvidam da minha existência, outros têm certeza de que eu sou apenas uma das muitas criações da laboriosa e criativa imaginação humana. Mas... nós estamos aqui, entre os palpáveis e factíveis “vasos de barro”. Nós existimos.
O homem adquiriu ao longo do tempo a insidiosa mania de crer apenas no que seus sentidos falhos, e muitas vezes mentirosos, podem captar. Eu não posso ser captado pelos sentidos humanos, portanto, não sou real.
Estou sobre uma obra da mente humana, trabalhada com certo esmero, posso ver: um arranha-céu.
É engraçado ver os humanos glorificarem a si mesmos através das suas obras. Eles se acham magníficos por coisas que criaram, enquanto a verdadeira glória são eles mesmos, os que se esquecem de si.
O mundo dos homens é grande e cheio de problemas que parecem insolúveis, mas na verdade não o são. A maioria dos problemas da humanidade é criada por ela mesma, e sem que ela perceba acaba se afundando mais e mais, até que fica difícil se erguer novamente. Essa é uma das razões para a minha existência.
Neste momento eu vejo uma bela moça, jovem e de rosto cansado, no entanto bela, sair de seu trabalho enquanto o sol se põe num crepúsculo que merecia ser retratado por um mestre renascentista. Porém a mocinha lá embaixo está com os pensamentos revoltos demais para reparar nele. Eu posso ouvir os pensamentos dela; e até para mim, que já ouvi e vi muitas coisas desde muito tempo, eles estão confusos, difíceis de entender e interpretar. Ela precisa da minha ajuda.
Num instante eu estou ao lado dela, caminhando. Ela não me vê, é claro, mas de certa forma sente o meu afago como se fosse apenas o vento anunciando a chegada de mais uma noite de inverno.
– Você não pode se entregar desse jeito – digo – Você sabe o quanto batalhou pra estar na sua posição...
A moça ouve a minha voz como se fosse apenas o seu pensamento; uma injeção de ânimo é tudo o que ela precisa, pelo menos agora.
Nós podemos interferir com mais propriedade em suas vidas, mas são poucas as vezes em que uma intervenção direta se faz realmente necessária, costumamos apenas sussurrar, porque isso faz emergir a resposta que reside neles.
Eu a acompanho até em casa, vejo quando ela pega a chave debaixo do capacho da entrada e abre a porta. Ela joga seus pertences no sofá gasto, mas bem cuidado, e se joga em seguida, deixando que o sofá a amorteça, a receba como se fosse um ente querido ansioso por vê-la. A moça se entrega à letargia por um tempo.
Ela divaga, viaja por seus pensamentos enquanto a televisão desligada reflete apenas a sua imagem, distorcida pelo visor levemente convexo do aparelho. Ao que parece a distorção da tela refletia um pouco do que ela via dentro de si mesma, uma imagem distorcida do que ela idealizou quando empilhava os tijolos que dariam sustentação à sua vida. Mas pouco do que ela planejou pôde ser concretizado.
Eu me sento ao lado dela no sofá. Reparo que até o corpo dela mostra cansaço. É fácil planejar e ter esperanças quando você é apenas uma jovem sentada numa cadeira em uma sala de aula. É fácil desenhar no quadro-negro de um futuro ainda nebuloso, mas, conforme as nuances e formas do que eles chamam de vida adulta vão se delineando, a situação, por vezes, perde o controle. Os humanos acabam se deixando levar por uma rotina preestabelecida, determinada pelas suas vidas que deram errado. Tente manter esperanças e sonhos quando tem contas para pagar, quando acorda na mesma hora todo dia não importando o quanto sua mente e seu corpo estejam cansados. Você vai para um emprego onde tem que aturar pessoas (digo aturar, porque é quase impossível conviver com elas), cumprindo uma função da qual não gosta, e no final do dia, volta para uma casa vazia, que te abriga, mas não te aconchega. Não há espaço para sonhos nesse mundo real.
Eu pretendo fazer com que isso mude, ou essa moça vai acabar desistindo de viver.
Após um tempo de meditação ela se levanta e abre a janela. O vento de uma noite já fria aceita o convite e entra ruidosamente, balançando utensílios e jogando algumas coisas leves no chão.
Eu aproveito e comodamente esbarro em algo que não é tão leve assim. Derrubo uma pasta, um amontoado de papéis avulsos e sem muita importância. Ela bufa, frustrada, e fecha a janela, pondo-se em seguida a recolher os papéis e tudo o mais que caiu. Ao deparar-se com a pasta, todas as coisas que estavam no chão parecem perder a significância. A pasta contém nada além de anotações antigas, vindas de uma época anterior, de uma época onde havia tempo para sonhar. E para escrever.
Um sorriso muito belo brota no rosto da moça, como se um jardineiro regasse uma flor que não via água há muito tempo e esta abrisse suas pétalas para receber as gotas. Ela se deixa sentar ali mesmo no chão e passa a examinar aquelas folhas. Folhas de caderno, sem muito significado. Ao menos não o significado que a sociedade valoriza, mas todo um significado sentimental. Todo um valor.
Um tempo passa e ela se levanta do chão, pondo a pasta no lugar, mas agora deixando ela visível. Ela se senta de novo no velho sofá e contempla de novo o televisor desligado, mas agora a imagem distorcida e oprimida que era exibida está diferente. A distorção mostra um mundo de sonhos, mostra a válvula de escape através da criatividade de alguém que nasceu com o dom de usar as palavras a seu favor e a favor de outras almas que por elas precisam ser tocadas.
– Por que você não volta a escrever? – eu sussurro. – Suas histórias são tão boas que nem parece que foi você que as escreveu...
A ideia injetada parece ter dado certo, pois ela prontamente se levanta do sofá e vai para a mesa da cozinha; busca uns papéis em branco, e começa a enchê-los com palavras, até que o sono chega e ela vai dormir. O vento lá fora já está ameno, depois de estar banhada e devidamente vestida com seu pijama, a moça abre a janela de seu quarto e deita-se em sua cama. Eu ajoelho próximo a ela e lhe dou um beijo na testa, concedendo-lhe os melhores sonhos que ela poderia ter. Sonhos de esperança. Então, sussurrando-lhe uma boa noite, eu volto para o lugar de onde vim com mais uma missão cumprida.
Vai aqui com pouca coisa de diferença, mas eu mantive até mesmo os erros e repetições porque esse escritor aí faz parte do que eu me tornei e eu jamais negaria. Vão aqui os créditos à Agathe, minha querida irmã, que sempre olha meus textos. Obrigado!
Espero que gostem! Boa noite a todos.
José Nilson Jr. ([lazarus] »ΛωS« Passolargo †††)
Revisora: Agathe ([ag_ht] »ΛωS« Agathe F.)
Muito bom, meu senso de interpretação e amabilidade já estava quase morto, até que em um lapso de tristeza e saudade resolvi ver novamente como estavam as coisas e relembrar as fantásticas histórias que Another World Society providenciava.. Sobre as grandes histórias, os escolhidos, os lordes das trevas, mas também os contos, simplistas porém requintados, espero Ansiosamente pelo seu Livro Fernando, e Boa Sorte! :3
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